Tenho evitado falar de mim neste espaço em que escrevo. A verdade é que nem sempre consigo — a maioria das vezes não —, mas acho que todos já aguentaram mais do que mereciam tanta melancolia e lamentações, a verdade é que não consegui evitar. E neste período, as lembranças tornam-se quase uma realidade.
Este ano a árvore de Natal não será montada. O presépio, pela primeira vez, permanece guardado nas caixas. As luzes coloridas que não acendem. Pela primeira vez, também, sinto-me órfão. Na verdade, quis o destino que inaugurasse esta condição há poucos dias.
Sim, já sou homem crescido, cheio de responsabilidades e pai. Mas há um pedaço de mim (e posso garantir que não é pequeno) que queria continuar a ser o filho mimado e pequeno, especialmente nesta época, a primeira sem ela. A coisa vai ficando mais complicada, os sentimentos vão aflorando, as lágrimas caiem sem querer ao ver uma montra enfeitada, ao ver uma neta passeando lado a lado com a avó.
Na contabilidade Natalícia, falta um presente, um abraço, um beijo, um sorriso. Não há conversas sobre a Ceia de Natal. A Ceia de Natal...ementa igual, nunca mais, nem bacalhau, nem polvo, nem passas. Mas isso não é quase nada, se não vai haver mais Champanhe, bolo de chocolate e rabanadas. Nem beijos à meia noite, orações em família, elogios emocionados, opiniões maternas. Nunca mais chamar alguém de mãe. O primeiro Natal sem ela confirma que nunca mais nada será igual.
A vida passa tão rápido e perdemos tanto tempo com discussões, confusões, ideologias baratas, imposições para fazer valer os nossos pontos de vista, as nossas vontades, quando apenas duas realidades existem: o nascer e o morrer. Neste meio-termo, apenas os amigos que vamos conquistando ao longo da vida. E depois, a falta que ela faz e que nós iremos fazer um dia.
As crianças sentem falta, os adultos sentem falta, até os pássaros e as plantas também. Uma saudade que só deixa quem fez sua existência realmente valer a pena. Vai ser duro este primeiro Natal e os próximos também. Com o tempo, sei que irão chegar outras pessoas, enquanto outras vão partindo. Tudo é parte deste mistério chamado vida. Este ano, em particular, com certeza que o Natal não vai ser igual ao que passou.
Lynce -
5a.feira 11.11.10
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