26 de dezembro de 2010

AJUDAR


O Que Fiz Hoje por Alguém?

Presidente Thomas S. Monson
Há pessoas necessitadas em toda parte, e todos nós podemos fazer algo para ajudar alguém.
Meus amados irmãos e irmãs, cumprimento todos nesta manhã, com amor no coração pelo evangelho de Jesus Cristo e por todos vocês. Sinto-me grato pelo privilégio de estar diante de vocês e oro para que eu possa transmitir-lhes eficazmente o que me senti inspirado a dizer.
Há poucos anos, li um artigo escrito por Jack McConnell, médico. Ele foi criado nos montes do sudoeste da Virgínia, nos Estados Unidos, sendo um dos sete filhos de um ministro metodista e uma mãe dona de casa. A família vivia em condições muito humildes. Contou que, em sua infância, diariamente, quando a família se sentava à mesa de jantar, o pai perguntava a cada um: “E o que você fez por alguém hoje?”1 Os filhos estavam determinados a fazer algo de bom todos os dias, para poderem contar ao pai que haviam ajudado alguém. O Dr. McConnell diz que essa prática foi o legado mais valioso deixado por seu pai, porque aquela expectativa e aquelas palavras inspiraram tanto ele como seus irmãos a ajudarem as pessoas por toda a vida. À medida que cresceram e amadureceram, sua motivação para prestar serviço se transformou no desejo íntimo de ajudar o próximo.
Além da expressiva carreira médica do Dr. McConnell — na qual ele dirigiu o desenvolvimento do teste tuberculínico, participou do início do desenvolvimento da vacina contra poliomielite, supervisionou o desenvolvimento do Tylenol e contribuiu para o desenvolvimento da imagem por ressonância magnética — ele também criou uma organização chamada Voluntários da Medicina, que proporciona aos profissionais aposentados da área médica a oportunidade de servir como voluntários em clínicas gratuitas que dão atendimento a trabalhadores sem plano de saúde. O Dr. McConnell disse que, desde a aposentadoria, seu tempo livre evaporou numa semana de 60 horas de trabalho não remunerado, mas que agora tem muito mais energia e satisfação na vida do que antes. Ele declarou: “Num dos paradoxos da vida, ao servir com os voluntários da medicina, acabei me beneficiando mais do que meus pacientes”.2 Existem hoje mais de 70 dessas clínicas espalhadas por todos os Estados Unidos.
É claro que nem todos podemos ser um Dr. McConnell e abrir clínicas médicas para ajudar os pobres. No entanto, há pessoas necessitadas em toda parte, e todos nós podemos fazer algo para ajudar alguém.
O Apóstolo Paulo admoestou: “Servi-vos uns aos outros pelo amor”.3 Relembrem comigo as conhecidas palavras do rei Benjamim, no Livro de Mórmon: “Quando estais a serviço de vosso próximo, estais somente a serviço de vosso Deus”.4
O Salvador ensinou a Seus discípulos: “Porque, qualquer que quiser salvar a sua vida, perdê-la-á; mas qualquer que, por amor de mim, perder a sua vida, a salvará”.5
Creio que o Salvador está dizendo que, a menos que nos entreguemos totalmente ao serviço ao próximo, haverá pouco propósito em nossa vida. Aqueles que vivem só para si acabam definhando e figurativamente perdem a vida, ao passo que aqueles que se dedicam inteiramente ao serviço ao próximo crescem e florescem — e literalmente salvam a própria vida.
Na conferência geral de outubro de 1963, na qual fui apoiado membro do Quórum dos Doze Apóstolos, o Presidente David O. McKay fez a seguinte declaração: “A maior felicidade do homem vem quando ele se entrega inteiramente ao serviço ao próximo”.6
Geralmente vivemos lado a lado, mas não nos comunicamos de coração a coração. Há pessoas em nossa esfera de influência que clamam com as mãos estendidas: “Porventura não há bálsamo em Gileade?”7
Tenho certeza de que a intenção de todo membro da Igreja é a de servir e ajudar os necessitados. No batismo, fizemos o convênio de “carregar os fardos uns dos outros, para que fiquem leves”.8 Quantas vezes seu coração foi tocado ao ver as necessidades de outra pessoa? Quantas vezes você teve a intenção de ser a pessoa que ofereceria ajuda? No entanto, quantas vezes seu dia-a-dia interferiu e você deixou essa ajuda para outros, sentindo que “ah, certamente, alguém vai cuidar dessa necessidade”.
Ficamos por demais envolvidos na vida agitada que levamos. No entanto, se parássemos e déssemos uma boa olhada no que estamos fazendo, talvez descobríssemos que nos envolvemos demais com coisas sem grande importância. Em outras palavras, com muita frequência gastamos nosso tempo cuidando de coisas que realmente não importam muito, no plano geral das coisas, e negligenciamos as causas mais importantes.
Há muitos anos, ouvi um poema que gravei na mente e que procuro usar para guiar minha vida. É um dos meus favoritos:
Chorei à noite
Pela falta de visão
Que me fez cego às necessidades de alguém;
Mas nunca na vida
Senti um pingo de remorso
Por ter sido bondoso demais.9
Meus irmãos e irmãs, estamos cercados por pessoas que necessitam de nossa atenção, de nosso incentivo, de nosso apoio, de nosso consolo e de nossa bondade — sejam familiares, amigos, conhecidos ou estranhos. Estamos nas mãos do Senhor aqui na Terra, com o encargo de servir e edificar Seus filhos. Ele precisa de cada um de nós.
Talvez vocês se lamentem, dizendo: Mal consigo terminar tudo o que tenho para fazer a cada dia. Como posso prestar serviço a outras pessoas? Como posso fazer isso?
Há apenas um ano, fui entrevistado pelo Church News, antes do meu aniversário. Ao término da entrevista, o repórter perguntou qual seria o presente ideal que os membros do mundo inteiro poderiam me dar. Respondi: “Encontrem alguém que esteja passando por momentos difíceis, ou que esteja enfermo ou solitário, e façam algo por essa pessoa”.10
Fiquei muito emocionado este ano, em meu aniversário, ao receber centenas de cartões e cartas de membros da Igreja no mundo inteiro, contando como haviam atendido a esse meu desejo de aniversário. Os atos de serviço incluíam a montagem de kits de auxílio humanitário e trabalhos de jardinagem.
Dezenas de Primárias desafiaram as crianças a prestar serviço, e esses atos de serviço foram registrados e enviados para mim. Devo dizer que os métodos pelos quais eles foram registrados foram muito criativos. Muitos vieram na forma de folhas encadernadas em livros de vários formatos e tamanhos. Alguns continham cartões ou gravuras desenhadas ou coloridas pelas crianças. Uma Primária muito criativa enviou um grande pote contendo centenas de “recadinhos carinhosos”, cada um deles representando um ato de serviço prestado durante o ano por uma das crianças da Primária. Só posso imaginar a felicidade que aquelas crianças sentiram ao contar qual foi seu ato de serviço e, depois, colocar um “recadinho carinhoso” no pote.
Quero compartilhar com vocês apenas alguns dos inúmeros bilhetes que vieram com os muitos presentes que recebi. Uma criancinha escreveu: “Meu avô teve um derrame e segurei a mão dele”. De uma menina de 8 anos: “Minha irmã e eu ajudamos minha mãe e minha família organizando e limpando o armário de brinquedos. Levou algumas horas e nos divertimos muito. A melhor parte foi que fizemos uma surpresa para a mamãe e a deixamos muito feliz, porque ela nem tinha pedido que fizéssemos aquilo”. Uma menina de 11 anos escreveu: “Há uma família em minha ala que não tem muito dinheiro. O casal tem três filhinhas. Eles tiveram que ir para algum lugar, por isso eu me ofereci para cuidar das três meninas. O pai ia me dar uma nota de 5 dólares, mas eu disse: ‘Não posso aceitar’. Meu ato de serviço foi cuidar das meninas de graça”. Um menino da Primária na Mongólia escreveu que havia trazido água do poço para que a mãe não tivesse que fazê-lo. De um menino de 4 anos, sem dúvida escrito pela professora da Primária: “Meu pai foi fazer um treinamento do exército por algumas semanas. Meu trabalho especial é dar beijos e abraços na minha mãe”. Uma menina de 9 anos escreveu: “Apanhei morangos para minha bisavó e me senti muito bem ao fazer isso!” E outra: “Brinquei com uma menina que estava sozinha”.
De um menino de onze anos: “Fui até a casa de uma senhora e lhe fiz perguntas e cantei um hino para ela. Senti-me bem por visitá-la. Ela ficou feliz porque nunca ninguém vai visitá-la”. Ao ler esse bilhete, lembrei-me das palavras escritas há muito tempo pelo Élder Richard L. Evans, do Quórum dos Doze. Ele disse: “É difícil para os jovens compreenderem a solidão que lhes advém quando a vida muda de um tempo de preparação e desempenho para um tempo de pôr as coisas de lado. (…) Por muito tempo, a pessoa foi o centro da casa, alguém muito procurado, e então, quase de repente, é deixada de lado para ver a procissão passar: isso é viver em solidão. (…) Temos de viver muito tempo para aprender como é vazio o quarto no qual há apenas móveis. É preciso alguém (…) não simplesmente uma pessoa contratada, uma instituição ou um profissional, para reviver as lembranças do passado e mantê-las calorosamente vivas no presente. (…) Não há como trazer de volta os anos da juventude; mas podemos ajudar essas pessoas a viver na cálida luz do pôr-do-sol, que se torna mais belo graças a nossa atenção (…) e amor não fingido.”11
Também recebi cartões e bilhetes de aniversário de grupos de Rapazes e de Moças que fizeram cobertores para hospitais, serviram em instituições de distribuição de alimentos, foram batizados em favor dos mortos e realizaram inúmeros outros atos de serviço.
As Sociedades de Socorro, onde sempre podemos encontrar auxílio, prestaram atos de serviço em número muito superior ao que normalmente teria sido realizado. Os grupos do sacerdócio fizeram o mesmo.
Meus irmãos e irmãs, raramente senti o coração tão tocado e grato quanto na ocasião em que minha mulher e eu literalmente passamos horas lendo esses presentes. Meu coração está cheio de amor agora ao falar dessas experiências e contemplar as vidas que foram abençoadas tanto pela doação como pelo recebimento.
As palavras do capítulo 25 de Mateus me veem à mente:
“Vinde, benditos de meu Pai, possuí por herança o reino que vos está preparado desde a fundação do mundo;
Porque tive fome, e destes-me de comer; tive sede, e destes-me de beber; era estrangeiro, e hospedastes-me;
Estava nu, e vestistes-me; adoeci, e visitastes-me; estive na prisão, e fostes ver-me.
Então os justos lhe responderão, dizendo: Senhor, quando te vimos com fome, e te demos de comer? ou com sede, e te demos de beber?
E quando te vimos estrangeiro, e te hospedamos? ou nu, e te vestimos?
E quando te vimos enfermo, ou na prisão, e fomos ver-te?
E, respondendo o Rei, lhes dirá: Em verdade vos digo que quando o fizestes a um destes meus pequeninos irmãos, a mim o fizestes”.12
Meus irmãos e irmãs, façamos a nós mesmos a pergunta que o Dr. Jack McConnell e seus irmãos e irmãs ouviam a cada noite na hora do jantar: “O que fiz hoje por alguém?” Que a letra deste hino conhecido penetre nossa alma e encontre abrigo em nosso coração:
Neste mundo acaso fiz hoje eu
A alguém um favor ou bem?
Se ainda não fiz ser alguém mais feliz
Falhei ante os céus também!
A carga de alguém mais leve fiz eu
Porque um auxílio lhe dei?
Ou acaso ao pobre que as mãos estendeu
Um pouco do meu ofertei?13
Esse serviço para o qual todos fomos chamados é o serviço do Senhor Jesus Cristo.
Ao convocar-nos para Sua causa, Ele nos convida a achegar-nos a Ele, dizendo para cada um de nós:
“Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei.
Tomai sobre vós o meu jugo, e aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração; e encontrareis descanso para as vossas almas.
Porque o meu jugo é suave e o meu fardo é leve”.14
Se realmente prestarmos atenção, ouviremos aquela voz vinda de muito longe a dizer-nos, como disse a outra pessoa: “Bem está, servo bom e fiel”.15 Que cada um possa qualificar-se para essa bênção de nosso Senhor, é minha oração, que ofereço em Seu nome, sim, de Jesus Cristo, nosso Salvador. Amém.

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