9 de setembro de 2011

O ÚLTIMO CAMINHÃO DE BETERRABAS


 O Bispo Vaugh J. Featherstone, que na época era do Bispado Presidente, contou o seguinte relato narrado pelo irmão Les Goates. O pai do irmão Goates, George, plantava beterrabas a oeste de Lehi, Utah. 

Em 1918, quando ocorreram os eventos por ele descritos, mais de 20 milhões de pessoas em todo o mundo morreram na epidemia de gripe espanhola.
“Naquele ano, o inverno chegou cedo, congelando o solo com grande parte da safra de beterrabas sacarinas ainda por colher”, escreveu o irmão Goates. “Papai e meu irmão Francis tentavam desesperadamente arrancar da terra gelada um carregamento de beterrabas por dia.” Um dia, eles receberam um telefonema dizendo que Kenneth, o neto de nove anos de George, “fora acometido pela terrível gripe e falecera nos braços do pai, após poucas horas de extremo sofrimento”. 

Pediram que George fosse a Ogden para transportar o corpo do menino para Lehi, onde seria sepultado. Quando George chegou à casa, descobriu que seu filho Charles também estava doente. Charles pediu ao pai que levasse o menino e voltasse no dia seguinte, para levá-lo também. “Papai trouxe Kenneth para casa, fez um caixão em sua oficina de carpintaria, (…) e com [meu irmão] Franz e dois vizinhos [abriram] a cova. (…)

“O pessoal mal acabara de voltar do cemitério,quando o telefone voltou a tocar.” Ficaram sabendo que Charles tinha morrido e que quatro de seus filhos pequenos também estavam doentes. O corpo de Charles foi levado para Lehi de trem, mas no dia seguinte George teve que voltar a Ogden para buscar uma de suas netas, Vesta, de sete anos, que também tinha falecido. Antes de voltar para Lehi com Vesta, recebeu outro telefonema informando que Elaine, de cinco anos, uma das irmãs que ficara doente, também tinha morrido. Por isso, George fez outra “dolorosa viagem, indo buscar para o
sepultamento o quarto membro da sua família, dentro da mesma semana”.
No dia seguinte, George disse a seu filho Francis: “
‘Bem, filho, é melhor a gente ir para o campo e ver se conseguimos colher mais um carregamento de beterrabas, antes que a terra fique ainda mais congelada’. (…)

Ao descerem pela estrada de Saratoga, foram passando por carroção após carroção carregado de beterrabas a caminho do engenho, conduzidos por lavradores da vizinhança. (…)

No último carroção ia (…) Jasper Rolfe. Ele acenou uma alegre saudação, gritando: ‘Este é o último, Tio George’.

Meu pai, voltando-se para Francis, comentou: ‘Quisera que fossem todos nossos’.

Chegando ao portão da fazenda (…) não restava uma única beterraba no campo inteiro. Só então ele começou a compreender o que Jasper Rolfe quis dizer ao gritar: ‘Este é o último, Tio George!’ (…)

Então meu pai sentou-se num monte de folhas de beterraba — aquele homem que trouxera para enterrar em casa quatro de seus entes queridos em apenas seis dias; fizera os ataúdes, cavara sepulturas e até mesmo ajudara a vestir os mortos — (…) soluçou tal qual uma criança pequena.

Depois, levantou-se, enxugou os olhos com seu enorme lenço vermelho estampado, olhou para o céu e disse: ‘Muito obrigado, Pai, pelos élderes de nossa ala’”. 
Conferência Geral, abril de 1973

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